segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Estranhamento

Me disse que as coisas que não existem
são mais bonitas...

Que estranho é não me estranhar.
Por assim, tenho inúmeras instigações diárias. Todas elas. Rio-experimento, me vôo, me esqueço. Sou uma tentativa.
De qualquer cenário faço casa de um inteiro-incompleto amanhecer. Vivo e morro quase a todo instante no renascer dos olhos das pessoas, a epiderme das coisas. Das paredes e muros que nunca receberam o toque de minhas mãos, mas meus olhos decifram... a imagem e a palavra da tonalidade do mundo.
Sou piegas.
As coisas estão em mim como eu estou nelas. Eis minha latência, meu não-estar em mim. Eis minha flor.
O estranhamento é a minha forma de afloração, meu crescer pra passarinho. Minha presença quase sempre ausente. Invisível.
Enxerga meus cortes, moço? Cortes de dor sem horror. De rosa.
Floresço.
Sou cidade estranha constantemente redescoberta e redescobrindo-se. Tateio as epidermes, sinais de vertigem minha. Meu enrubrescer.
Sou vermelha por dentro. Rubra de pedra. Risos.
Não deixa morrer. Vês? Minha morte me é necessária em momentos exatos, porém, se eu morrer em ti, ah...
Aliás, existo em ti? Em ti, no coração em que carregas? Sem pretensões?
Andarilho moradas.
As janelas estão abertas. Sempre tem uma, mesmo que no quintal, aquele lugar para se aveludar os pés.
Faz quanto tempo que moro aqui neste papel? No conhecer dos teus olhos por estas letras? Veludo.
Tempo.
Eis meu segredo. Sou mundana por afloramentos, os registros de meus olhos. Fotografia.
Afloro meus olhos, deixo as coisas em mim. De repente, c l i c k. A eternidade me mora, me molda, me é. Sou tão tanta em minha pequenez. Minha morada é o meu enxergar.
Agora te enxergo, um retrato de corpo inteiro. Decifra-me aí dentro. Continuo em ti.
Cuida da minha afloração? Deixa eu morar?

Desculpe a delicadeza,
Alana Linhares

2 comentários:

ACSELBLOG disse...

Bela estréia. Parabéns Camila e parabens Alana. Agora é povoar esse ciberespaço vago...
Marcio

asa disse...

=)